[ PEDRO LUSO DE CARVALHO ]
O jovem
advogado está longe de conhecer o elenco de problemas que o espera no exercício
da advocacia, no que diz respeito ao seu relacionamento com os seus futuros
clientes, problemas esses que vão desde a preocupação que têm sobre o que
consta no instrumento procuratório, na parte reservada aos poderes que outorgam
(nesse caso, mostram-se preocupados quando lêem que o outorgado recebe “amplos
poderes para a ação”), passando pela assinatura do contrato de honorários (um
dos momentos mais sensíveis na relação entre o advogado e o cliente), pela
desconfiança que têm sobre a honestidade do advogado (desconfiança essa que se
constituirá em pano de fundo durante o tempo em que a ação ajuizada estiver
tramitando), até a sua capacidade – sempre imaginam que o advogado não está
fazendo o suficiente para o êxito da demanda.
Como
cada um desses problemas, que envolvem o advogado e seus clientes, também não
podem ser descritos num pequeno espaço como este, hoje me restringirei ao
último que mencionei, qual seja, a desconfiança dos clientes quanto à
capacidade do advogado. Apenas sobre esse item também muito pode ser dito, por
isso restrinjo-me a discorrer apenas sobre a “ajuda” que os clientes procuram
dar ao seu advogado, preocupado que estão sobre o resultado da demanda: não são
poucos os que pedem que seus advogados escrevam e falem muito (iludem-se os que
pensam que o bom advogado é aquele que escreve e fala muito), embora não saibam
em quais momentos processuais é permitido ao advogado escrever e falar,
acostumados que estão com novelas e filmes nos quais o advogado defende seu
constituinte no Tribunal do Júri, no qual falar muito (e bem) é de inegável
importância.
Preocupei-me
acima em dar realce que esses problemas, que ainda não são do conhecimento do
jovem advogado (pelo menos não o são em toda sua extensão), por que aqueles que
por longos anos militam na advocacia conhecem sobremaneira esse problema
relacionado com a dúvida que os clientes têm sobre a capacidade profissional de
quem os representa. Então, vamos ver o que, sobre o assunto, e de modo especial
no que se refere a escrever muito, tem para contar-nos o célebre advogado e
jurista italiano, Piero Calamandrei, com a crônica que integra a sua obra Eles, os juízes, vistos por nós, os
advogados:
“Queixam-se
os juízes de que os advogados escrevem demais, e quase sempre têm razão. Mas
enganam-se se atribuem este excesso a verbosidade natural dos advogados ou, de
preferência, ao seu desejo de um maior lucro. Os juízes não sabem quanta desta
prolixidade é devida às pressões do cliente e qual a soma de paciência que o
advogado tem de ter para não flectir, às insistências de quem avalia a
excelência da defesa pelo número de folhas escritas”.
“Lembro-me
agora da frase de uma gentil senhora – diz Calamandrei –, que depois me ter
explicado pela décima vez os argumentos, que em sua opinião deviam interessar à
sua defesa e já no limiar da porta, parou e sorrindo-me suplicou: - Doutor, não
se esqueça: escreva muito”.
REFERÊNCIA:
CALAMANDREI, Piero. Eles, os juízes, vistos por nós, os
advogados. Tradução de Ary dos Santos. 4ª ed. Livraria Clássica Editora:
Lisboa, Portugal, 1971, p. 111-112.
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