26 de mai. de 2021

RUI BARBOSA / Velhos Pintados e Escritores Vendidos



- Pedro Luso de Carvalho
        
RUI BARBOSA escreveu Velhos Pintados e Escritores Vendidos no ano de 1921. Trata-se, na verdade, de um capítulo do seu livro Conferência às Classes Armadas. Rui, patrono dos Advogados do Brasil e do Senado da República, soube analisar a sociedade de seu tempo como poucos o fizeram.
Embora algumas dezenas de anos nos separem desse período de tempo, essa crítica do grande advogado, jurista, político, em nada precisaria ser mudada para denunciar a sociedade corrupta dos dias que correm, neste ano de 2014, como se verá (In Rui Barbosa e o Exército. Conferência às Classes Armadas. Casa de Rui Barbosa, 1949, p. 41):
Dá-se com esses administradores, para quem se baralharam as noções de probidade, coisa análoga à que sucede com os velhos pintados. Bem sabem eles que se pintam. Bem lhes estão vendo os demais a pintura. Mas fazem garbo das cãs azevichadas, como se ninguém lhes soubesse da tingidura visível.
Da mesma sorte entre os jornalistas – prossegue Rui -, que se alquilam, ou vendem, se truaneia o farsalhão da publicidade honesta. O público aponta, a dedo, vendidos e compradores, conta pelos dedos da mão os preços, desembolsos e embolsos das compras e vendas. Mas os personagens da comédia, desempambados e indiferentes à vaia geral das consciências, continuam a mercar adulações, e traficar em verrinas, como se a galeria não estivesse farta de conhecer quanto custa ao contribuinte roubado cada uma dessas gabanças ou diatribes.

(Rui Barbosa)


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