- Pedro Luso de Carvalho
RUI BARBOSA escreveu Velhos
Pintados e Escritores Vendidos no ano de 1921. Trata-se, na verdade, de um
capítulo do seu livro Conferência às
Classes Armadas. Rui, patrono dos Advogados do Brasil e do Senado da República,
soube analisar a sociedade de seu tempo como poucos o fizeram.
Embora algumas dezenas de anos nos separem desse período de tempo, essa
crítica do grande advogado, jurista, político, em nada precisaria ser mudada
para denunciar a sociedade corrupta dos dias que correm, neste ano de 2014,
como se verá (In Rui Barbosa e o Exército.
Conferência às Classes Armadas. Casa de Rui Barbosa, 1949, p. 41):
Dá-se com esses administradores, para quem se baralharam as noções de
probidade, coisa análoga à que sucede com os velhos pintados. Bem sabem eles
que se pintam. Bem lhes estão vendo os demais a pintura. Mas fazem garbo das
cãs azevichadas, como se ninguém lhes soubesse da tingidura visível.
Da mesma sorte entre os jornalistas – prossegue Rui -, que se alquilam,
ou vendem, se truaneia o farsalhão da publicidade honesta. O público aponta, a
dedo, vendidos e compradores, conta pelos dedos da mão os preços, desembolsos e
embolsos das compras e vendas. Mas os personagens da comédia, desempambados e
indiferentes à vaia geral das consciências, continuam a mercar adulações, e
traficar em verrinas, como se a galeria não estivesse farta de conhecer quanto
custa ao contribuinte roubado cada uma dessas gabanças ou diatribes.
(Rui Barbosa)
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