25 de jul. de 2010

MAGISTRADOS APOSENTADOS NA ADVOCACIA




por Pedro Luso de Carvalho


O célebre jurista, político e advogado italiano, Piero Calamandrei, escreveu uma cronica que, mais uma vez, vem justificar a sua fama de percuciente pensador, principalmente como jurista e advogado militante por tantos anos. Essa cronica sem título, que poderíamos intitulá-la de Magistrados Aposentados no Exercício da Advocacia, é um dos tantos textos importantes de Calamandrei, que fazem parte do livro ELES, OS JUÍZES, VISTOS POR NÓS, OS ADVOGADOS, 4ª ed., Livraria Clássica Editora, Lisboa, 1971, págs. 170-171. Os advogados que militam já há alguns anos na profissão, certamente conhecem um ou mais casos como o que é narrado por Calamandrei, na sua brilhante cronica. Prestemos atenção ao que Calamandrei diz:


“Sinto um sutil mal-estar quando encontro no tribunal, a pedir adiamentos e com a pasta debaixo do braço, magistrados reformados, que, atingindo o limite de idade, se meteram a advogar. Bem sabemos que advocacia e magistratura estão moralmente ao mesmo nível e não é descer trocar a beca de juiz pela toga de advogado. Mas, até ontem, tínhamo-los visto austero e solenes nas suas cátedras, decidindo as rixas dos advogados, e tínhamos sentido que eram melhores do que nós, visto terem atingido, à força de exercerem a imparcialidade toda a vida, aquela serena pacatez de espírito, que permite aos velhos avaliar e lamentar de alto, como misérias que não os atingem, as paixões e as invejas da mocidade turbulenta. Faz pena ve-los agora entre nós, tomando parte, preocupados e azedos, nas nossas escaramuças, e ouvir a sua voz, já tremula pela força dos anos, elevar-se em voos retóricos por conta dos clientes.


Não há espetáculo mais triste – prossegue Calamandrei – do que aquele oferecem certas pessoas de idade, quando inconscientemente se aventuram a intemperanças juvenis e que, para não serem ridículas necessitavam a já gasta agilidade dos vinte anos. Para certas destrezas forenses, para certas turbulencias de audiencia, também é precisa a desenvoltura da mocidade e nunca avaliei tão bem a mortificante tristeza de certos expedientes de 'advogadotes', como quando os vi postos em prática por esses velhos principiantes, que com ingenua inabilidade tentam, no declínio de sua nobre vida, assemelhar-se a eles”.


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