4 de nov. de 2013

[Filosofia] J. HESSEN – Teoria do Conhecimento


  
– PEDRO LUSO DE CARVALHO


JOHANNES HESSEN (1889- 1971) é autor da obra Teoria do Conhecimento, escrita em 1925, que foi traduzida para o português por António Correia (licenciado em Ciências Históricas e Filosóficas), em 1978, para a publicação da editora Arménio Amado, de Coimbra, Portugal. Essa obra, cujo título oiriginal é Erkenntnisttheorie, edição de língua alemã de Ferd. Dümmlers Verlag (Bona), foi o resultado da reunião das lições proferidas por Johannes Hessen na Universidade de Colonia, Alemanha. Nessas aulas, o professor Hessen procurava aliar as soluções simples e as diversas possibilidades de resolvê-los, bem como a desenvolver um exame crítico e a adotar uma posição. Hessen compartilha com Nicolau Harmann a convicção de que “o último sento do conhecimento filosófico não é tanto resolver enigmas como descobrir maravilhas”.

Hessen coloca em primeiro lugar o método femenológico ao serviço da teoria do conhecimento. Em segundo lugar, apresenta uma discussão pormenorizada do trabalho da intuição, e desenvolve a teoria especial do conhecimento além da teoria geral. Sobre a Essência da Filosofia, diz Hessen, na Introdução da obra: “A teoria do conhecimento é uma disciplina filosófica. Para definir a sua posição no todo que é a filosofia, temos necessidade de partir de uma definição essencial desta. Porém, como chegar a esta definição? Qual o 'método' que devemos utilizar para definir a essencia da filosofia?”.

Ainda sobre a Essência da Filosofia, prossegue Hessem:

Poderia, antes de mais, tentar-se obter uma definição essencial da filosofia partindo do significado da palavra. A palavra filosofia procede da língua grega e equivale a amor pela sabedoria ou, o que quer dizer o mesmo, desejo de saber, de conhecimento. É claro que este significado etimológico da palavra filosofia é demasiado geral para que dele se possa extrair um definição essencial. É necessário, evidentemente, procurar outro método.
Na busca de outro método para a definição essencial da filosofia, Hessen faz menção a outras tantas possibilidades de encontrar-se essa definição, dizendo que poderia chegar a ela coligindo as diversas definições essenciais que, através da historia, têm dado os diversos filósofos; pensou Hessel em comparar essas diversas definições essenciais, comparando-as umas com as outras, para assim chegar a uma definição exaustiva. Hessen então desiste de fazer tais comparações, por entender que não obteria a resposta desejada, com a seguinte motivação:

As definições essenciais que encontramos na história da filosofia diferem tanto, muitas vezes, umas das outras, que parece completamente impossível colher delas uma definição essencial unitária da filosofia. Compare-se, por exemplo, a definição de filosofia que dão Platão e Aristóteles – que definem a filosofia como a ciência pura e simples – como a definição dos estoicos e dos 'epicuristas', para os quais a filosofia é, respectivamente, uma aspiração à virtude ou à felicidade. Ou comparece-se a definição que, na Idade Moderna, dá da filosofia Cristina Wolff – que a define como scientia possibilium, quatenus esse possunt – com a definição que dá Frederico Überweg no seu conhecido Tratado de História da Filosofia, segundo a qual a filosofia é a ciência de princípios.
Diz Hessen sobre sobre as divergências sobre a definição da filosofia:

 (...) tais divergências tornam vão o intento de encontrar por este caminho uma definição essencial de filosofia. A essa definição somente se chegará, pois, prenscindindo-se de tais definições e enfrentando-se o conteúdo histórico da própria filosofia. Foi Guilherme Dilthey – diz Hessen - quem pela primeira vez utilizou o método, no seu ensaio sobre A essencia da filosofia. Aqui o seguiremos com certa liberdade, tentando naturalmente, pela nossa parte, desenvolver os seus pensamentos.
Prossegue o professor Hessen:

Porém, o processo que acabamos de apontar parece destinado a um fracasso, porque encontra desde logo uma dificuldade. Tratar-se de extrair do conceito histórico da filosofia o conceito da sua essencia. Mas, para poder falar de um conteúdo histórico da filosofia, necessitamos – parece-nos - de possuir já um conceito de filosofia. Precisamos de saber o que é filosofia para tirar o seu conceito dos fatos. Na definição essencial da filosofia, na forma em que desejamos obtê-la, parece haver, portanto, um círculo; este processo parece, pois, por esta dificuldade, condenado ao fracasso.” Hessen afirma, no entanto, que assim não acontece. Diz que a dificuldade que aparece “desaparece se se atende ao fato de que não partimos de um conceito definido da filosofia, mas sim da 'representação geral' que toda a pessoa culta tem dela. Como indica Dilthey: O que primeiramente devemos tentar é descobrir um conteúdo objetivo comum em todos aqueles sistemas à vista dos quais se forma a representação geral da filosofia.
Hessen afirma que esses sistemas existem de fato, e adverte quanto a isso:

Acerca de muitos produtos do pensamento cabe duvidar se devem ou não considerar-se como filosofia. Porém, toda esta espécie de dúvida se apaga quando se trata de numerosos outros sistemas. Desde o seu aparecimento, a Humanidade os tem sempre considerados como produtos filosóficos do espírito, tem visto neles a própria essência da filosofia. Esses sistemas são os de Platão e Aristóteles, Descartes e Leibnitz, Kant e Hegel. Se os aprofundarmos, neles encontraremos certos traços essenciais comuns, apesar de todas as diferenças que apresentam. Encontraremos em todos eles uma tendência para a universalidade, uma orientação para a totalidade dos objetos.
Sobre essa tendência acima referida, Hessen aponta outro lado:

Em contraste com a atitude dos especialistas, cuja observação se dirige sempre a um setor maior ou menor da totalidade dos objetos do conhecimento, encontramos aqui um ponto de vista universal, que abrange a totalidade das coisas. Tais sistemas apresentam, pois, o caráter da universalidade. A este se junta um segundo traço essencial comum. A atitude do filósofo em frente da totalidade dos objetos é uma atitude intelectual, uma atitude do pensamento. O filósofo trata de conhecer, de saber. É essencialmente um espírito cognoscente. Como pontos essenciais de toda a filosofia temos, portanto: 1º, a orientação para a totalidade dos objetos; 2º, o caráter racional, cognitivo, desta orientação.”
Hessen diz ainda que dessa forma conseguimos um conceito essencial da filosofia, conceito esse ainda muito formal, chamando a nossa atenção para o fato de que poderemos enriquecer o conteúdo desse conceito “considerando os diferentes sistemas, não separadamente, mas sim na sua conexão histórica. Trata-se, portando – prossegue Hessen – de abranger a total visão histórica da filosofia nos seus apectos fundamentais. Debaixo desse ponto de vista hão-de aparecer compreensíveis as definições contraditórias da filosofia a que atrás nos referimos”.

Diz o professor Hessen, que, com razão, Sócrates é tido como o criador da filosofia ocidental. E que os pensamentos e aspirações de Sócrates dirigem-se à construção da vida humana sobre a reflexão e o saber; o filósofo procura elevar a vida à consciência filosófica, como base nos seus conteúdos. E que é com Platão que essa tendência atinge o seu pleno desenvolvimento. Platão que é o maior discípulo de Sócrates. Para ele (Platão) “a reflexão filosófica estende-se ao conteúdo total da consciência humana. Enquanto a filosofia de Sócrates se dirigia aos objetos práticos, aos valores e às virtudes, na maioria das vezes, a filosofia de Platão ia mais adiante, com o conhecimento científico. A atividade do estadista, do poeta, do homem de ciência, apresenta-se igualmente como objeto de reflexão”.

Menciona Hessen que depois de Sócrates e Platão surgiria outro nome importante: Aristóteles, para o qual a filosofia apresenta um aspecto diferente:

O espírito de Aristóteles dirige-se de preferência para o conhecimento científico e seu objeto: o ser. Na base de sua filosofia encontra-se uma ciência universal do ser, a filosofia primeira, ou metafísica, como se intitulou mais tarde. Esta ciência ensina-nos acerca da essência das coisas, as conexões e o princípio último da realidade. Se a filosofia socrático-platônica pode caracterizar-se como uma 'conexão do espírito', deverá dizer-se de Aristóteles que a sua filosofia se apresenta, antes de tudo, como uma concepção do universo.
A obra de Hessen, Teoria do Conhecimento, está dividida em duas partes; na Primeira Parte, com o título Teoria Geral do Conhecimento e com o subtítulo de Investigação Femenológica. O fenômeno do conhecimento e os problemas nele contidos; o autor assim dispôs a matéria, nessa Primeira Parte: I – possibilidade do conhecimento, que está assim subdividida: 1. O dogmatismo; 2. O ceticismo; 3. O subjetivismo e o realismo; 4. O pragmatismo.

Na sua Segunda Parte, A Teoria do Conhecimento está assim dividida: 1. Seu problema; 2. A essência das categorias; 3. O sistema das categorias; 4. A substancialidade; 5. A causalidade, esta dividida em: a) Conceito da causalidade; b) O Princípio da causalidade.

Além da primeira e da segunda parte, esta importante obra filosófica - Teoria do Conhecimento – tem a sua Conclusão, com o título de “A fé e o saber”.

Johannes Hessen, teólogo e filósofo, nasceu em Lobberich, Alemanha, em 1889; morreu na cidade de Colonia, Alemanha, em 1971. A partir de 1921 foi, até a sua morte, professor de filosofia na Universidade de Colónia. Morreu com 82 anos de idade. Durante sua vida, publicou 55 livros, muitos deles com várias edições, sendo que 20 livros seus foram publicados no exterior.


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