– PEDRO LUSO DE CARVALHO
JOHANNES
HESSEN (1889- 1971) é autor da obra Teoria
do Conhecimento, escrita em 1925, que foi traduzida para o português por
António Correia (licenciado em Ciências Históricas e Filosóficas), em 1978,
para a publicação da editora Arménio Amado, de Coimbra, Portugal. Essa obra,
cujo título oiriginal é Erkenntnisttheorie,
edição de língua alemã de Ferd. Dümmlers Verlag (Bona), foi o resultado da
reunião das lições proferidas por Johannes Hessen na Universidade de Colonia,
Alemanha. Nessas aulas, o professor Hessen procurava aliar as soluções simples
e as diversas possibilidades de resolvê-los, bem como a desenvolver um exame
crítico e a adotar uma posição. Hessen compartilha com Nicolau Harmann a
convicção de que “o último sento do conhecimento
filosófico não é tanto resolver enigmas como descobrir maravilhas”.
Hessen
coloca em primeiro lugar o método femenológico ao serviço da teoria do
conhecimento. Em segundo lugar, apresenta uma discussão pormenorizada do
trabalho da intuição, e desenvolve a teoria especial do conhecimento além da
teoria geral. Sobre a Essência da Filosofia,
diz Hessen, na Introdução da obra: “A teoria do conhecimento é uma disciplina
filosófica. Para definir a sua posição no todo que é a filosofia, temos
necessidade de partir de uma definição essencial desta. Porém, como chegar a
esta definição? Qual o 'método' que devemos utilizar para definir a essencia da
filosofia?”.
Ainda
sobre a Essência da Filosofia, prossegue Hessem:
Poderia, antes de
mais, tentar-se obter uma definição essencial da filosofia partindo do
significado da palavra. A palavra filosofia procede da língua grega e equivale
a amor pela sabedoria ou, o que quer dizer o mesmo, desejo de saber, de
conhecimento. É claro que este significado etimológico da palavra filosofia é
demasiado geral para que dele se possa extrair um definição essencial. É
necessário, evidentemente, procurar outro método.
Na busca
de outro método para a definição essencial da filosofia, Hessen faz menção a
outras tantas possibilidades de encontrar-se essa definição, dizendo que
poderia chegar a ela coligindo as diversas definições essenciais que, através
da historia, têm dado os diversos filósofos; pensou Hessel em comparar essas
diversas definições essenciais, comparando-as umas com as outras, para assim
chegar a uma definição exaustiva. Hessen então desiste de fazer tais
comparações, por entender que não obteria a resposta desejada, com a seguinte
motivação:
As definições
essenciais que encontramos na história da filosofia diferem tanto, muitas
vezes, umas das outras, que parece completamente impossível colher delas uma
definição essencial unitária da filosofia. Compare-se, por exemplo, a definição
de filosofia que dão Platão e Aristóteles – que definem a filosofia como a
ciência pura e simples – como a definição dos estoicos e dos 'epicuristas',
para os quais a filosofia é, respectivamente, uma aspiração à virtude ou à
felicidade. Ou comparece-se a definição que, na Idade Moderna, dá da filosofia
Cristina Wolff – que a define como scientia
possibilium, quatenus esse possunt – com a definição que dá Frederico
Überweg no seu conhecido Tratado de História da Filosofia, segundo a qual a
filosofia é a ciência de princípios.
Diz Hessen
sobre sobre as divergências sobre a definição da filosofia:
(...) tais divergências tornam vão o intento
de encontrar por este caminho uma definição essencial de filosofia. A essa
definição somente se chegará, pois, prenscindindo-se de tais definições e
enfrentando-se o conteúdo histórico da própria filosofia. Foi Guilherme Dilthey
– diz Hessen - quem pela primeira vez utilizou o método, no seu ensaio sobre A
essencia da filosofia. Aqui o seguiremos com certa liberdade, tentando naturalmente,
pela nossa parte, desenvolver os seus pensamentos.
Prossegue
o professor Hessen:
Porém, o processo
que acabamos de apontar parece destinado a um fracasso, porque encontra desde
logo uma dificuldade. Tratar-se de extrair do conceito histórico da filosofia o
conceito da sua essencia. Mas, para poder falar de um conteúdo histórico da
filosofia, necessitamos – parece-nos - de possuir já um conceito de filosofia.
Precisamos de saber o que é filosofia para tirar o seu conceito dos fatos. Na
definição essencial da filosofia, na forma em que desejamos obtê-la, parece
haver, portanto, um círculo; este processo parece, pois, por esta dificuldade,
condenado ao fracasso.” Hessen afirma, no entanto, que assim não acontece. Diz
que a dificuldade que aparece “desaparece se se atende ao fato de que não
partimos de um conceito definido da filosofia, mas sim da 'representação geral'
que toda a pessoa culta tem dela. Como indica Dilthey: O que primeiramente
devemos tentar é descobrir um conteúdo objetivo comum em todos aqueles sistemas
à vista dos quais se forma a representação geral da filosofia.
Hessen afirma que esses sistemas existem de fato, e
adverte quanto a isso:
Acerca de muitos
produtos do pensamento cabe duvidar se devem ou não considerar-se como filosofia.
Porém, toda esta espécie de dúvida se apaga quando se trata de numerosos outros
sistemas. Desde o seu aparecimento, a Humanidade os tem sempre considerados
como produtos filosóficos do espírito, tem visto neles a própria essência da
filosofia. Esses sistemas são os de Platão e Aristóteles, Descartes e Leibnitz,
Kant e Hegel. Se os aprofundarmos, neles encontraremos certos traços essenciais
comuns, apesar de todas as diferenças que apresentam. Encontraremos em todos
eles uma tendência para a universalidade, uma orientação para a totalidade dos
objetos.
Sobre
essa tendência acima referida, Hessen aponta outro lado:
Em contraste com a
atitude dos especialistas, cuja observação se dirige sempre a um setor maior ou
menor da totalidade dos objetos do conhecimento, encontramos aqui um ponto de
vista universal, que abrange a totalidade das coisas. Tais sistemas apresentam,
pois, o caráter da universalidade. A este se junta um segundo traço essencial
comum. A atitude do filósofo em frente da totalidade dos objetos é uma atitude
intelectual, uma atitude do pensamento. O filósofo trata de conhecer, de saber.
É essencialmente um espírito cognoscente. Como pontos essenciais de toda a
filosofia temos, portanto: 1º, a orientação para a totalidade dos objetos; 2º,
o caráter racional, cognitivo, desta orientação.”
Hessen
diz ainda que dessa forma conseguimos um conceito essencial da filosofia,
conceito esse ainda muito formal, chamando a nossa atenção para o fato de que
poderemos enriquecer o conteúdo desse conceito “considerando os diferentes
sistemas, não separadamente, mas sim na sua conexão histórica. Trata-se,
portando – prossegue Hessen – de abranger a total visão histórica da filosofia
nos seus apectos fundamentais. Debaixo desse ponto de vista hão-de aparecer
compreensíveis as definições contraditórias da filosofia a que atrás nos
referimos”.
Diz o
professor Hessen, que, com razão, Sócrates é tido como o criador da filosofia
ocidental. E que os pensamentos e aspirações de Sócrates dirigem-se à
construção da vida humana sobre a reflexão e o saber; o filósofo procura elevar
a vida à consciência filosófica, como base nos seus conteúdos. E que é com
Platão que essa tendência atinge o seu pleno desenvolvimento. Platão que é o
maior discípulo de Sócrates. Para ele (Platão) “a reflexão filosófica
estende-se ao conteúdo total da consciência humana. Enquanto a filosofia de
Sócrates se dirigia aos objetos práticos, aos valores e às virtudes, na maioria
das vezes, a filosofia de Platão ia mais adiante, com o conhecimento
científico. A atividade do estadista, do poeta, do homem de ciência,
apresenta-se igualmente como objeto de reflexão”.
Menciona
Hessen que depois de Sócrates e Platão surgiria outro nome importante:
Aristóteles, para o qual a filosofia apresenta um aspecto diferente:
O espírito de
Aristóteles dirige-se de preferência para o conhecimento científico e seu
objeto: o ser. Na base de sua filosofia encontra-se uma ciência universal do
ser, a filosofia primeira, ou metafísica, como se intitulou mais tarde. Esta
ciência ensina-nos acerca da essência das coisas, as conexões e o princípio
último da realidade. Se a filosofia socrático-platônica pode caracterizar-se
como uma 'conexão do espírito', deverá dizer-se de Aristóteles que a sua
filosofia se apresenta, antes de tudo, como uma concepção do universo.
A obra
de Hessen, Teoria do Conhecimento, está dividida em duas partes; na Primeira
Parte, com o título Teoria Geral do Conhecimento e com o subtítulo de
Investigação Femenológica. O fenômeno do conhecimento e os problemas nele
contidos; o autor assim dispôs a matéria, nessa Primeira Parte: I – possibilidade do conhecimento, que está
assim subdividida: 1. O dogmatismo; 2. O ceticismo; 3. O subjetivismo e o
realismo; 4. O pragmatismo.
Na sua Segunda Parte, A Teoria do Conhecimento está assim dividida: 1. Seu problema; 2. A essência das categorias; 3. O sistema das
categorias; 4. A substancialidade; 5. A causalidade, esta dividida em: a)
Conceito da causalidade; b) O Princípio da causalidade.
Além da primeira
e da segunda parte, esta importante obra filosófica - Teoria do Conhecimento – tem a sua Conclusão, com o título de “A fé
e o saber”.
Johannes
Hessen, teólogo e filósofo, nasceu em Lobberich, Alemanha, em 1889; morreu na
cidade de Colonia, Alemanha, em 1971. A partir de 1921 foi, até a sua morte,
professor de filosofia na Universidade de Colónia. Morreu com 82 anos de idade.
Durante sua vida, publicou 55 livros, muitos deles com várias edições, sendo
que 20 livros seus foram publicados no exterior.
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