– PEDRO LUSO DE CARVALHO
TOBIAS BARRETO de Meneses nasceu na
cidade de Campos, Estado de Sergipe, em 7.6.1839. Mudou-se para Recife e aí
cursou a Faculdade de Direito, onde logo ficou conhecido pelo seu espírito de
liderança, que viria revolucionar não apenas a Faculdade de Direito, mas também
a intelectualidade pernambucana, pelas suas ideias de vanguarda.
Na Faculdade de Direito, granjeou
admiradores pelo combate que travou com o seu corpo docente conservador, e
preso aos conceitos da velha ciência jurídica. A fama de Tobias Barreto veio
com a apresentação, nos meios intelectuais, das novas correntes do pensamento
europeu, tendo como representantes Haeckel, Darwin, etc., que tivera a
oportunidade de conhecê-los.
Dotado de inteligência superior, Tobias
Barreto preparou-se intelectualmente não apenas para ciência jurídica, mas
também para filosofia e literatura; estudou com renomados mestres estrangeiros,
de modo especial, os alemães. Para Tobias, os fenômenos sociais suscitavam
grande interesse, aos quais se entregava com grande entusiasmo. Também estava
voltado para a música, que se constituía em objeto de estudo dedicado.
No Brasil, nos fins do século 19, ninguém
mais que Tobias Barreto concorreu para a renovação da nossa cultura; chefiava a
Escola do Recife, cujos expoentes
foram: Sílvio Romero, Clóvis Beviláqua, Artur Orlando, José Higino, Capistrano
de Abreu, Martins Junior, Araripe Junior e Graça Aranha.
Polêmico e revolucionário de ideias teve
que enfrentar uma plêiade de opositores; estes o combatiam com ardor,
sentimento comum entre os intelectuais que se recusam aceitar avanços socioculturais;
no campo das ideias, seus opositores mostravam-se arredios, tensos com a
possibilidade de quaisquer mudanças; reacionários, combatiam as mudanças que
ocorriam pelo espírito e pelas ideias do Realismo que influenciava as
faculdades de Direito do Recife e de São Paulo.
Diz Antônio Carlos Amora, na sua História da Literatura Brasileira, que,
no Recife, Tobias Barreto, estudante de Direito já veterano, com quase trinta
anos, ataca violentamente a filosofia espiritualista e católica. A atitude do
líder acadêmico galvanizou as aspirações revolucionárias dos estudantes que o
cercavam. Amora firma: “Em 1868, o clima de insatisfação ante os rumos da
realidade nacional, criado pelos intelectuais, atinge o grau de saturação
tensional”. Esse momento propiciou a ação da Escola do Recife, tendo Tobias como seu líder.
Tobias reagiu aos ataques de seus muitos
inimigos sempre com bravura, e, em contrapartida, suas polêmicas atingiram o
paroxismo da violência. Legou-nos uma vasta e importante obra sobre seus temas
prediletos: Direito, Filosofia, Literatura e Música. No gênero poesia, seu
poema Dias e Noites representa ao
lado de Castro Alves, a corrente condoreira dos fins do romantismo. Com Tobias
Barreto e a sua Escola do Recife
nasceu o verdadeiro espírito crítico no Brasil.
Grande parte da obra de Tobias Barreto
foi produzida na pequena cidade de Escada, de onde jamais saiu. Escreveu: Ensaios e Estudos de Filosofia e Crítica,
Dias e Noites, Estudos Alemães, Discursos,
Questões Vigentes, Menores e Loucos, Polêmicas, entre outras obras. Em 1926 o Estado de Sergipe
patrocinou a edição de suas Obras
Completas, em 10 volumes.
Sobre o autor e as suas obras, ensina
Alceu Amoroso Lima, que Tobias Barreto é o exemplo de uma personalidade que
subsistiu sem uma obra, dizendo com isso, que embora tivesse escrito todos
esses livros, não tinha leitores para eles, fato que não impediu o
reconhecimento da sua importância para a cultura brasileira.
Sobre esse fenômeno, diz Alceu Amoroso Lima,
em sua obra, Introdução à Literatura
Brasileira:
O público – esse público escolhido que
devemos considerar como um elemento essencial de todo ciclo literário completo
– não lê Tobias Barreto. E, no entanto, quem não conhece a personalidade de
Tobias, quem não o sente palpitar vivamente num dos momentos mais decisivos de
nossa história intelectual e, portanto, quem não o sente indelevelmente
presente em nossas letras? E, no entanto ninguém conhece mais a sua obra, quase
totalmente desinteressante para o paladar dos homens de hoje. (...) as obras de
Tobias Barreto – mesmo reeditadas graças ao cuidado de um governo solícito pela
glória literária de um coestaduano – não são nem encontráveis nem procuradas.
Como as autoridades brasileiras sempre
deram pouca ou nenhuma importância às mulheres e homens que se dedicam à
cultura, qualquer que seja sua área, com Tobias Barreto, que dedicou toda a sua
vida ao estudo do Direito e demais ciências acima referidas, e na divulgação de
seus conhecimentos, não foi diferente: em 26.6.1889, morreu em estado de
extrema pobreza. Foi o patrono da Cadeira
nº 38 da Academia Brasileira de
Letras.
REFERÊNCIA:
LINS,
Álvaro; HOLLANDA, Aurélio Buarque de. Antologia
da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, vol.
II, 1966, p. 131-132.
AMORA,
Antônio Soares. História da Literatura
Brasileira. São Paulo: Ed. Saraiva, 1965, p. 84.
LIMA,
Alceu Amoroso. Introdução à Literatura
Brasileira. Rio de Janeiro: Agir Editora, 1964. p.115-116.
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