31 de mar. de 2021

TOBIAS BARRETO - A Escola do Recife





             – PEDRO LUSO DE CARVALHO


TOBIAS BARRETO de Meneses nasceu na cidade de Campos, Estado de Sergipe, em 7.6.1839. Mudou-se para Recife e aí cursou a Faculdade de Direito, onde logo ficou conhecido pelo seu espírito de liderança, que viria revolucionar não apenas a Faculdade de Direito, mas também a intelectualidade pernambucana, pelas suas ideias de vanguarda.
Na Faculdade de Direito, granjeou admiradores pelo combate que travou com o seu corpo docente conservador, e preso aos conceitos da velha ciência jurídica. A fama de Tobias Barreto veio com a apresentação, nos meios intelectuais, das novas correntes do pensamento europeu, tendo como representantes Haeckel, Darwin, etc., que tivera a oportunidade de conhecê-los.
Dotado de inteligência superior, Tobias Barreto preparou-se intelectualmente não apenas para ciência jurídica, mas também para filosofia e literatura; estudou com renomados mestres estrangeiros, de modo especial, os alemães. Para Tobias, os fenômenos sociais suscitavam grande interesse, aos quais se entregava com grande entusiasmo. Também estava voltado para a música, que se constituía em objeto de estudo dedicado.
No Brasil, nos fins do século 19, ninguém mais que Tobias Barreto concorreu para a renovação da nossa cultura; chefiava a Escola do Recife, cujos expoentes foram: Sílvio Romero, Clóvis Beviláqua, Artur Orlando, José Higino, Capistrano de Abreu, Martins Junior, Araripe Junior e Graça Aranha.
Polêmico e revolucionário de ideias teve que enfrentar uma plêiade de opositores; estes o combatiam com ardor, sentimento comum entre os intelectuais que se recusam aceitar avanços socioculturais; no campo das ideias, seus opositores mostravam-se arredios, tensos com a possibilidade de quaisquer mudanças; reacionários, combatiam as mudanças que ocorriam pelo espírito e pelas ideias do Realismo que influenciava as faculdades de Direito do Recife e de São Paulo.
Diz Antônio Carlos Amora, na sua História da Literatura Brasileira, que, no Recife, Tobias Barreto, estudante de Direito já veterano, com quase trinta anos, ataca violentamente a filosofia espiritualista e católica. A atitude do líder acadêmico galvanizou as aspirações revolucionárias dos estudantes que o cercavam. Amora firma: “Em 1868, o clima de insatisfação ante os rumos da realidade nacional, criado pelos intelectuais, atinge o grau de saturação tensional”. Esse momento propiciou a ação da Escola do Recife, tendo Tobias como seu líder.
Tobias reagiu aos ataques de seus muitos inimigos sempre com bravura, e, em contrapartida, suas polêmicas atingiram o paroxismo da violência. Legou-nos uma vasta e importante obra sobre seus temas prediletos: Direito, Filosofia, Literatura e Música. No gênero poesia, seu poema Dias e Noites representa ao lado de Castro Alves, a corrente condoreira dos fins do romantismo. Com Tobias Barreto e a sua Escola do Recife nasceu o verdadeiro espírito crítico no Brasil.
Grande parte da obra de Tobias Barreto foi produzida na pequena cidade de Escada, de onde jamais saiu. Escreveu: Ensaios e Estudos de Filosofia e Crítica, Dias e Noites, Estudos Alemães, Discursos, Questões Vigentes, Menores e Loucos, Polêmicas, entre outras obras. Em 1926 o Estado de Sergipe patrocinou a edição de suas Obras Completas, em 10 volumes.
Sobre o autor e as suas obras, ensina Alceu Amoroso Lima, que Tobias Barreto é o exemplo de uma personalidade que subsistiu sem uma obra, dizendo com isso, que embora tivesse escrito todos esses livros, não tinha leitores para eles, fato que não impediu o reconhecimento da sua importância para a cultura brasileira.
Sobre esse fenômeno, diz Alceu Amoroso Lima, em sua obra, Introdução à Literatura Brasileira:
O público – esse público escolhido que devemos considerar como um elemento essencial de todo ciclo literário completo – não lê Tobias Barreto. E, no entanto, quem não conhece a personalidade de Tobias, quem não o sente palpitar vivamente num dos momentos mais decisivos de nossa história intelectual e, portanto, quem não o sente indelevelmente presente em nossas letras? E, no entanto ninguém conhece mais a sua obra, quase totalmente desinteressante para o paladar dos homens de hoje. (...) as obras de Tobias Barreto – mesmo reeditadas graças ao cuidado de um governo solícito pela glória literária de um coestaduano – não são nem encontráveis nem procuradas.
Como as autoridades brasileiras sempre deram pouca ou nenhuma importância às mulheres e homens que se dedicam à cultura, qualquer que seja sua área, com Tobias Barreto, que dedicou toda a sua vida ao estudo do Direito e demais ciências acima referidas, e na divulgação de seus conhecimentos, não foi diferente: em 26.6.1889, morreu em estado de extrema pobreza. Foi o patrono da Cadeira nº 38 da Academia Brasileira de Letras.


REFERÊNCIA:
LINS, Álvaro; HOLLANDA, Aurélio Buarque de. Antologia da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, vol. II, 1966, p. 131-132.
AMORA, Antônio Soares. História da Literatura Brasileira. São Paulo: Ed. Saraiva, 1965, p. 84.
LIMA, Alceu Amoroso. Introdução à Literatura Brasileira. Rio de Janeiro: Agir Editora, 1964. p.115-116.



*  *  *

Nenhum comentário:

Postar um comentário

O seu comentário será postado em breve. Obrigado.