4 de mai. de 2012

EDUARDO COUTURE / 9º Mandamento - Esquece



                            por Pedro Luso de Carvalho


       O 9º Mandamento (“Esquece") do importante processualista uruguaio, Eduardo Couture, diz no seu intróito: “A advocacia é uma luta de paixões”. Esse é, sem dúvida, um fato que não é desconhecido dos advogados que passam boa parte de suas vidas debruçados sobre livros e processos na árdua luta visando a fundamentação adequada das teses que defendem, e, também, para fazer uma correta leitura dos autos na tentativa de encontrar algum indício neste ou naquele documento juntado pela parte contrária para, igualmente, valer-se dele para sustentar a tese de que o direito de seu cliente não foi respeitado pela parte contrária.  

        Eduardo Couture não se limita a fazer menção sobre essa luta de paixões; mostra nessa introdução ao seu penúltimo mandamento, o que pode ser feito pelo advogado para manter-se distante de aborrecimentos que tais embates podem proporcionar à sua saúde, dizendo: “Se a cada batalha fores carregando tua alma de rancor, chegará o dia em que a vida será impossível para ti. Terminado o combate, esquece logo tanto a vitória quanto a derrota”. Não se pode dizer que Couture esteja errado no que aconselha, visto que os problemas emocionais sempre deixam portas abertas para doenças oportunistas.  

        Passemos, pois, ao tema do 9º Mandamento de Eduardo Couture, intitulado “Esquece” (COUTURE, Eduardo. Os Mandamentos do Advogado. Tradução de Ovídio A. Baptista da Silva e Carlos Otávio Athyde. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 1979), como segue, na íntegra:                                      

                                           
                                             [ESPAÇO DO  9º MANDAMENTO]                                                                     
                                                           
                                                              "E S Q U E C E"
                                                                                               (Eduardo Couture)  

        
       Para que o círculo do inferno irão um dia aqueles advogados que nos recitam, inclementes, às vezes agarrando-nos pelo casado, levantando-nos a voz como se fossemos o adversário, suas alegações, suas razões ou seus memoriais?  

        E que lugar do purgatório estará reservado àqueles que na velhice seguem contando ainda questões que sustentaram na juventude?

        Em que lugar do paraíso espera os diretores das revistas de jurisprudência que se recusam a publicar as notas críticas daqueles que confundem as publicações jurídicas com uma terceira ou quarta instância?  

        A verdade é que existe uma insidiosa enfermidade que ataca aos advogados e os faz constantemente de suas causas, mormente daquelas que, por uma ou outra razão, nasceram para serem esquecidas.  

        Os pleitos, diz o provérbio, defendem-se como próprios e perdem-se como alheios.  

        Também a advocacia tem o seu fair play, que consiste não só no comportamento leal e correto durante a luta, mas também no acatamento respeitoso às decisões do juiz.  

        O advogado que segue discutindo depois da coisa julgada em nada difere do atleta que, terminado o prélio, pretende permanecer no campo de jogo tentando obter, contra um inimigo inexistente, uma vitória que lhe fugiu das mãos.                                                                                    


                                                                  * * *

        Para acessar o último mandamento de Couture, clique em EDUARDO COUTURE & Seu 10º Mandamento.


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