27 de fev. de 2015

PIERO CALAMANDRE – O Advogado não se Contagia



–PEDRO LUSO DE CARVALHO

PIERO CALAMANDREI nasceu na cidade de Florença, Itália, em 1889 e faleceu em 1956. Foi professor nas Universidades de Florença, Messina, Modena e Siena. Foi um dos poucos professores que não integrou o Partido Nacional Fascista. Em 25 de julho de 1945 foi eleito Reitor da Universidade Florentina.
Calamandrei foi um expoente da moderna escola de direito processual civil, além de renomado advogado. Fundou com Chiovenda e Carnelutti a Revista de Direito Processual (Rivista di diritto processuale). Em 1945 fundou a revista político-literária Il Ponte. Eleito para a Assembleia Constituinte fez parte da comissão encarregada de redigir o projeto da Constituição Italiana (foi deputado de 1948 a 1953).
Jurista consagrado, escreveu várias obras, dentre elas, Elogio dei giudici scritto da un avvocato, que foi traduzido para o português por Ary dos Santos, com o título Eles, os juízes, visto por nós, os advogados, e publicado pela Editora Livraria Clássica Editora, Lisboa, Portugal.
Segue uma das crônicas (Calamandrei não deu título à elas) que compõem o referido livro, à qual demos o título de O advogado não se contagia (In Piero Calamandrei/Eles, os juízes, visto por nós, os advogados. Tradução dos Santos. Lisboa: Livraria Clássica Editora, 4ª ed., 1971, p. 107-108):

O ADVOGADO NÃO SE CONTAGIA
– PIERO CALAMANDREI

Certos clientes vão contar ao advogado os seus males, na ilusão que, ao contagiá-lo, fiquem subitamente curados. E saem sorridentes e leves, convencidos de que conquistaram o direito de dormir sossegados a partir do momento em que encontraram  quem assumiu a obrigação profissional de passar as noites agitadas por conta sua.
Certa noite, encontrei no teatro um cliente que nesse dia viera ao meu escritório confessar-me que estava à beira da falência. Parecia contrariado e surpreendido por me encontrar naquele lugar de prazer e, de longe, durante o espetáculo, olhava-me com certo mau modo, como para me fazer compreender que, dada a ruína que o ameaçava, não estava certo que eu pensasse em divertir-me, em vez de sentir o elementar dever de ficar em casa e suspirar por ele.


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