3 de jan. de 2009

ARGENTINA PUNE CRIMINOSOS DA DITADURA

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por Pedro Luso de Carvalho



Um exemplo para não ser esquecido, agora que estamos nos primeiros dias de 2009: a Justiça Argentina julgou e condenou à prisão perpétua, em agosto de 2008, o ex-capelão da Igreja Católica, Christian Von Wernich, de 69 anos, pela sua participação em sete homicídios em 31 casos de tortura e 42 seqüestros –, foi no caos da ditadura militar (1976-1983) que, com a dor pela perda de seus filhos, desaparecidos e mortos, nasceu um símbolo da resistência dos argentinos: a Associação das Mães da Praça de Maio; sua presidenta, Hebe Pastor Bonafini, tornou-se conhecida e respeitada não apenas pelos argentinos que se opunham à ditadura no seu país, mas também pelos povos das Américas e da Europa.


Para esse julgamento, que durou cerca de três meses, as portas do Tribunal foram abertas para o público, e também foi permitida a sua cobertura ao vivo, por emissoras de televisão. Na parte externa do prédio foi instalado um telão para que as pessoas pudessem acompanhar o julgamento. Os sobreviventes e familiares das vítimas, que participaram do julgamento na condição de testemunhas, disseram que o ex-capelão ouvia confissões nos locais onde eram torturados e informava aos militares o que ouvia.


Antes desse julgamento, outro foi realizado, na província de Córdoba, para julgar o ex-general Luciano Benjamín Menéndez (81 anos), e, no dia 17 de junho, o Tribunal deu o seu veredicto: culpado. A pena que lhe foi imposta foi prisão perpétua, pela autoria da morte de quatro militantes de esquerda em um centro de torturas do Terceiro Corpo do Exército, sob comando do general. Nesse dia, centenas de argentinos festejaram a sua condenação.


Será que semelhante julgamento seria realizado no Brasil? Acho difícil, em que pese o Ministro da Justiça Tarso Genro venha demonstrando clara intenção de imitar os argentinos. Os jornais brasileiros publicaram manifestação de Genro, na época (agosto de 2008), favorável a apuração dos crimes cometidos no período negro da nossa história, pelos militares, ao dizer que (sic) “É uma análise que deve ser baseada em uma visão universal: que é do extravasamento do mandato dado pelo Estado e a responsabilidade do agente que extravasa esse mandato e comete tortura”.


Esperar que esse exemplo das condenações ocorridas na Argentina - e que deverão continuar, não se sabe por quanto tempo - seja seguido pelos brasileiros, mesmo estando no poder o mais expressivo líder dos trabalhadores, o presidente Luis Inácio Lula da Silva, também vítima dos militares, como tantos outros companheiros seus do Partido dos Trabalhadores e de outros partidos socialistas, que também sofreram amargamente com as inomináveis torturas físicas e psicológicas aqui no Brasil, e no exílio, com outros tipos de sofrimentos. Não tenho dúvida: aqui, não haverá punições por esses crimes.
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